quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Virtú

Até agora não consegui procurar um apartamento. A única coisa que fiz foi fuçar em alguns sites de imóveis, e o pior, acreditando que realmente eu encontraria algum apartamento bom ali. Acho que minha vontade de correr pelas coisas está ao ponto de buscar pela oferta "alugo apartamento para o Bruno, localizado ao lado de uma livraria, um loja de cd, um bar (quieto), de fácil acesso a todos teus amigos, aceito quanto tiver", que infelizmente não publicaram em lugar algum, pelo menos nos lugares em que procurei.

Estou com essa mania agora. Achar que acho tudo entre uma petição e outra (é, eu sou advogado, não, eu não sou insuportável, pelo menos com desconhecidos), vasculhando a imensidão de ofertas imperdíveis e de tempo limitado. Cheguei ao cúmulo de ter certeza que apenas em alguns cliques compraria um sofá exatamente do jeito que eu queria, a preço módico, um bonsai, um gato persa e porque não uma cerveja gelada, a ser entregue obviamente no apartamento que tinha alugado na primeira pausa da manhã, para a tranquilidade do locador que não aguentava mais de angústia na espera do Bruno, eu Bruno.
Lembro da primeira vez que entrei na internet, no trabalho do meu pai. Ainda não tinha computador em casa, só Pense Bem. Estava que não me continha dentro de mim.

Eu vou ver a internet, vou me refestelar na imensidão das tantas coisas boas que me esperam, cintilantes, multicoloridas. Sentei. "Bruno, tenho só que pegar algumas coisas, vamos logo embora". "Claro, claro"... 15 segundos seriam suficientes para acalentar a ânsia de conhecer o mundo, a grande, vasta rede. "Só tem que esperar a conexão". "Ah sim... a conexão". Alguns minutos depois de grunhidos, rangidos e tons de telefone (o que me assusta é que daqui a um tempo, internet discada será a lembrança de alguns poucos bravos, que não nasceram no conforto largo de uma banda), eu tinha o mundo em minhas mãos. Tudo. Exatamente tudo. A tela demorou, demorou, mas apareceu. Um punhado de informações que não me informavam nada na época e que até hoje pouco me acrescentam (não tenho como exemplo de deleite, seja ele qual for, a leitura da transcrição de uma caixa preta de alguma tristeza), e só. Acho que foi uma das decepções mais frivolamente marcantes da minha infância. Me prometeram o mundo e não me ensinam a procurá-lo? Cadê as multicores, o prazer puro e infinito, a plenitude? Um joguinho que fosse...

O duro disso tudo é que nessas semanas me encontrei exatamente como naquele dia bem passado. Ainda teimo em crer que o mundo todo está ali. Que mania ansiosa essa de querer beber do mundo inteiro, sem respingar gota que for, e melhor, só esticando a mão. Tudo bem, hoje consigo encontrar alguma coisa, até um joguinho, que seja, mas temo chegar a conclusão que só vou achar um apartamento se nesse sábado largar os grilhões da preguiça e rodar pelas ruas cheias de esperanças, para aos poucos, encher a nova casa achada com o sofá, brincar com o gato, tomando uma cerveja. Começo a pensar que assim é mais legal, cansativo, decepcionante, mas convenhamos, o que não é?

ps: se você está a procura deste Bruno para alugar seu apartamento, não exite em se comunicar. Não custa nada...