quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Tem chiado, mas a vista, mermão...

O Rio, desculpem-me todos meus irmãos paulistanos, é lindo. Cidade que consegue te encantar mesmo depois de 08 horas de caos, calor, cartorários contrariados em plantão, 10 táxis, atrasos aeroportuários (isso tudo de terno e gravata, abastecido por 2 pães de forma e um copo de suco de laranja incorporados ao tanque às 6:55 a.m.), merece respeito. Tudo bem, ainda podemos bater no peito e nos orgulhar de jantar naquele restaurante esloveno às 02 horas da manhã depois daquela exclusiva mostra de cinema cambojano. Certo. Mas, tenho que me atrever a dizer, não temos aquele sol, muito menos seu reflexo sob a Lagoa ou, para os que estão irredutíveis com o Ibirapuera na cabeça, apelo, o mar. Ver o cristo de longe, sempre ali, teimando em abençoar até dos mais ateus, logo depois de desembarcar do avião, contornar o Pão de Açúcar ao decolar, concordem turrões, é melhor que olhara para Guarulhos, indo ou vindo. Com os prédios antigos, imperiais, não vou gastar tinta, temos cá também nossa quota de belas, velhas construções, mas que as de lá também se impõem, impõem. Algo me escapa naquela cidade. Não consigo apontar para o que faz o peito acalmar três batimentos por segundo, instantaneamente, assim que se pisa guanabara. Alguma coisa naquele ar que inunda a alma, como se a luz fosse um eterno lusco-fusco, num final de tarde sem fim a curtir a boemia, ouvindo um samba baixinho, onipresente. De morar 07 anos em São Paulo, vindo direto de terra à dentro, morro de amores por esta loucura, que merece um desagravo. Mas não consigo esconder que em meu coração (vagabundo, diga você) nalgum canto, marcado em rocha firme, se vê o Corcovado.

ps: na volta, da janela do avião vi minha sina paulistana...duas horas inteiras, desaparecidas por entre carros rabugentos até em casa

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O Pacaembu e as luzes de natal

Recebi minha querida, bem querida mãe em casa nessa semana passada. Estávamos na pasmaceira de um domingo gostoso demais para ser transformado em grade de programação. Cinema então, vamos nos lembrar que existem sei lá quantas milhões de pessoas lá fora e interagir, ainda que só olhando de longe para elas. Fomos ao shopping Pátio Higienópolis (agora é moda shopping ser pátio... não deixa de me trazer bolinhas de gude, bafo e poeira com cheiro de nostalgia à cabeça). O filme era a animação do momento, com voz de gente famosa. A idéia era agradar a alma juvenil da minha mãe, mas confesso que aproveitei a desculpa para dar uma de criança também. Chegamos ao shopping e logo minha mãe já estava iluminada. Brilhava com as cem-mil luzes da fachada. A decoração despertou algumas fagulhas, mas nada foi comparado às luzes. Do prédio, das árvores, o ar todo a piscar. Foi o primeiro contato de natal que tive no ano. Deixei os dias correrem sem norte de data, vivendo homeopaticamente, bolinha por vez. Natal era, sempre foi, feliz demais para encaixar no horário entre o atar e o afrouxar da gravata. Lembranças demais, tristeza viva demais para me deixar clarear com qualquer luz que não fosse a do final deste túnel. Mas ver aquela mulher de fibra, de sorriso marcado se encantar com um tropel de pisca-piscas me acalmou um pouco o peito, esquentou o chato da distância do sonho, as barreiras ficaram, mas deixei de rosnar um pouco para elas. Para ser sincero não foram as milhares de pequenas luzinhas, caindo sobre mim, nem a eletricidade das árvores aos longos das ruas, que me pegaram - confidência baixa, para mim só as árvores tiveram lá seu charme, o shopping estava feérico demais para meu estar murcho. Foi mesmo o brilho que vinham destes dois olhos tão conhecidos, tão já queimados por um sem-número de imagens, mas que nunca deixaram de traduzir o calor. Foi bom sentir aquela alegria despretensiosa, simples, que por azar a estúpida maioria deixa de ter quando faz 13. Compartilhar daquela felicidade pelas luzes deixou o natal um pouco mais presente em mim, e para uma data que estava perdida no calendário, este ficará sempre marcado por ouvir da mãe tão querida seu sonho de criança em imaginar o enorme Pacaembu encrustado de um infinito de luzes, mais brilhante que o céu.