O Rio, desculpem-me todos meus irmãos paulistanos, é lindo. Cidade que consegue te encantar mesmo depois de 08 horas de caos, calor, cartorários contrariados em plantão, 10 táxis, atrasos aeroportuários (isso tudo de terno e gravata, abastecido por 2 pães de forma e um copo de suco de laranja incorporados ao tanque às 6:55 a.m.), merece respeito. Tudo bem, ainda podemos bater no peito e nos orgulhar de jantar naquele restaurante esloveno às 02 horas da manhã depois daquela exclusiva mostra de cinema cambojano. Certo. Mas, tenho que me atrever a dizer, não temos aquele sol, muito menos seu reflexo sob a Lagoa ou, para os que estão irredutíveis com o Ibirapuera na cabeça, apelo, o mar. Ver o cristo de longe, sempre ali, teimando em abençoar até dos mais ateus, logo depois de desembarcar do avião, contornar o Pão de Açúcar ao decolar, concordem turrões, é melhor que olhara para Guarulhos, indo ou vindo. Com os prédios antigos, imperiais, não vou gastar tinta, temos cá também nossa quota de belas, velhas construções, mas que as de lá também se impõem, impõem. Algo me escapa naquela cidade. Não consigo apontar para o que faz o peito acalmar três batimentos por segundo, instantaneamente, assim que se pisa guanabara. Alguma coisa naquele ar que inunda a alma, como se a luz fosse um eterno lusco-fusco, num final de tarde sem fim a curtir a boemia, ouvindo um samba baixinho, onipresente. De morar 07 anos em São Paulo, vindo direto de terra à dentro, morro de amores por esta loucura, que merece um desagravo. Mas não consigo esconder que em meu coração (vagabundo, diga você) nalgum canto, marcado em rocha firme, se vê o Corcovado.
ps: na volta, da janela do avião vi minha sina paulistana...duas horas inteiras, desaparecidas por entre carros rabugentos até em casa