terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Essa mancha nenhum tira

Recém saído do trabalho, ele foi pego um pouco de surpresa pelo pedido da criança, encolhida na porta do supermercado. "Moço, compra omo pra mim para gente lava a roupa". Respondendo o de praxe "não tenho nada não", entrou. Quando o inusitado da cena teve tempo o suficiente para ultrapassar o nó da gravata e percorrer todas as sinapses devidas, parou no meio da sessão de hortaliças, sem saber se o mais esquisito foi o pedido específico da marca ou se do produto em si. A dúvida que atormentava a cabeça era o que diabos aquela criança de fato iria fazer com o tal sabão em pó, como se o menino não tivesse também suas mesmas necessidades, como se sabão em pó fosse real de mais para encaixar na fantasia de que não há menino, não existem aqueles trapos, uma mãe por detrás do menino, desfigurada por nem lavar a roupa de seu menino poder. Será que dá barato se misturar na água? Cheirar talvez dê alguma coisa. Ou será que agora traficante aceita escambo? Porque pedir logo sabão em pó, porque não dinheiro de uma vez, que seria muito menos amargo de dizer não do que àquilo, sob a desculpa pronta de que com certeza era cola, crack, pinga, sei lá o quê,  mas nada que de bom fizesse ao menino ele iria comprar. Na dúvida se usado para os óbvios e devidos fins de limpeza ou se para qualquer ato de auto destruição ao que qualquer cidadão pagador de impostos e telespectador do Brasil Urgente não poderia compactuar, muito menos financiar, o menino ficou no preto e branco de sua sobrevivência sem seu omo multicores e o "moço" foi para o ponto de ônibus se acomodar à massa.