sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

preciso transfundir meu sangue

Não sei se é possível escrever sem deixar um pedaço de si. Aliás, é exatamente para isso que se escreve. Às vezes sai fácil, o mostrar é de gosto e acompanha flores. Corporificação sempre menor de sentimentos inexplicáveis, mas ao menos símbolo do que se pulsa, às vezes, em disritmia.
Mas vai chegar algum dia em que numa manhã saída sem beijo, a tira vem de sangue, arrancada para buscar alguma coisa de ar. Como se as palavras carregassem consigo algum peso que não se agüenta mais levar nos bolsos.
Se for graça, aversão, dor ou repulsão, você estará ali, camuflado que seja, de anjo ou de monstro, embrenhado pelas linhas, nas escolhas de palavras, no momento do ponto final.
Escrever é materialização da alma. Como ter método para externar o que é só teu? Não é psicografia de uma entidade santa. É a consciente descoberta no tentar entender o que só começa como coceira, inquietação.