Rita Maria não gosta de madeira. Madeira é coisa que demanda. Assim, inexplicavelmente, vai no de deixar de lado o que é de desgosto da vida e segue o rumo no que merece ter rumo, aproveitado o bom de todas as coisas. Rita Maria é daquelas que tem o simples na lida. Não se encasqueta de ser hype, cool, de ler Bravo, comer temaki, ir na mostra, seja o que se tiver sendo mostrado. Não tem de fricotes, não se apoquenta com questiúnculas de quanto tempo se demora para chegar no restaurante sensação da semana, ou quantos meses de antecedência se tem de reservá-lo. Não liga em não ter Bistrô na sua cidade, ou Cinemark. Rita Maria nunca deve ter ido ao cinema ou comido escargot, o que pode parecer um absurdo, um despropósito sem graça de se ter como vida, ou em se não ter nela. Rita Maria nunca demorou 45 minutos para reclamar com o atendente daquela operadora sobre a conta que foi para o lugar errado, perdeu-se toda, e agora o Serasa está a mandar notificações, extra, intra, sub judiciais. Nunca na vida falou com um advogado, precisou de um advogado, nem sabe do ruim que advogado é. Não teve de pegar uma lotação e compartilhar essa experiência como mais 68 pessoas num dia de chuva, todos cara de bolor e guarda-chuvas em punhos para espetar o primeiro espertinho que se dignar a cruzar o olhar. Nunca se prestou de correr por uma avenida emparedada por carros, achando fazer bem a saúde. Maria Rita não sabe o que significa, nem nunca ouviu de um amigo a palavra stress. Enquanto os urbanóides que somos agradecemos o Starbucks de cada dia, entre dentes e de cara amarrada, Rita Maria acha graça da madeira que segura tua casa beira-mar numa cidade escondida do Ceará, num azul sem fim de todos os tons de grudar a palavra paradisíaco no lóbulo frontal. O pior é que se fosse você, ou eu, ralharíamos pela madeira, pela falta de café latte, por não ter nenhum sushizinho na redondeza, pela maresia, a areia, o sol. Acho que fomos demandados demais. Acho que demandamos muito.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
on demand
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