quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Tempo

Amigo de luzes, concedeu palhinha sobre tema tratado numa mesa de bar certo tempo atrás. Não sei quanto e sinceramente, nem eu, nem ele, se importa com isso.


Nada mais do que impressões. O tempo não é nada mais do que isso: impressões de sensações de sentimentos. Não falo do tempo do relógio. Do tempo mecânico, estático, linear. Falo do tempo real. Do tempo natural. Não olhe para o lado. Não olhe para fora. Saberá do que estou falando. Pobre daquele que vive em função de um tempo que não é seu. Não há nem mesmo piedade para este. A piedade vem do reconhecimento e o reconhecimento vem do sentimento de humanidade. Por isso, não vejo mais humanidade naqueles que perderam a capacidade de sentir. Por isso, duvido da humanidade daqueles que perderam a referência de seu próprio tempo. Deles, não tenho, não posso mais ter, piedade. Qualquer piedade. Qualquer caridade. No rosto destas pessoas sem coração, dominadas por sua própria criação, dominadas pelo tempo, seu próprio tempo, que as massacra e domina, não vejo nada mais que o vazio da angustia. Vazio da solidão. Aliás, não há tempo algum no estar só. Ter tempo, haver tempo, passar o tempo, pressupõe sempre um estar junto. Estar acompanhado. Senão não haverá tempo e sim o mais imenso abismo de pensamento. Nunca ouvi falar de pensamentos que sobrevivam, sintam, respirem, passem tempo. O pensamento é e sempre será atemporal, solitário. Por isso o penso, aquele mesmo penso que se diz existente, é na verdade um algo que não existe. Um não algo, que não está nem nunca estará no tempo. O tempo do vivente que vive, o tempo do sentimento, é bem outro. Este é o tempo da intensidade, é o tempo da condensação de vários, infinitos, acontecimentos e significados juntos. Um filósofo que viveu muito pouco tempo disse um dia que o verdadeiro tempo da vida não é linear. Disse que, na verdade, ele anda em saltos que passam por momentos cheios de significado, cheios de sentimento e verdade. Por isso alguém, não me bem lembro quem, disse que durante a revolução francesa toda a história do mundo foi condensada em poucos momentos. Momentos cheios de significado. Esta é a verdade do tempo, o verdadeiro tempo.

Lucas Catib De Laurentiis

Um comentário:

Vanessa Bolina disse...

Lindos textos... profundos, intensos e ácidos... escreves tão bem... publicar um livro não seria nada mal... fã vc já tem... amo vc! beijo...