quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fé na rampa!

O ano de 2007 veio como uma bala. Straight to the head, or is it the heart? Percebi que se não pegar o dia pelos calcanhares ele te mostra só poeira. Vida de recém formado é prova de fogo, com direito a arcos flamejantes e pulos à morte. Você não tem o que quer, corre feito cabrito para se manter no caminho que acreditar ser o certo para se ter, mas sem ter a certeza de nada, as vezes nem mesmo do que se quer. Adultos, tá bom... Não se têm mais o manto grosso da adolescência para nos aquecer os erros. A cara é tua, o muro está próximo, e indefectível. De tiro no peito, resolvi me enveredar numa corrida boba de fazer de cada minuto algo valoroso. Preciso crescer a toque de caixa, por imposição das minhas próprias pernas, pelo caminho que me coloquei para cabritar. Não cabe mais a calmaria do indefinido, os dias são esquadrinhados a laser. E se você ainda morar num aboletamento engalfinhado de gente, que nem mafagafo sobrevive, aí meu amigo, Jack Bouer é escoteiro mirim perto de você. Queria ver ele passar por estas 24 horas. Levanta-se às 6:03 (não sei você, mas eu sempre coloco alguns minutos mais do que o certo para o acordar, acho que ainda é minha alma de criança chorosa em inverno brabo que grita por mais um tempo na cama). Levantar é mesmo o verbo.... pelo só ato físico de se sair da cama, porque acordado ainda não se está. Ainda sem entender muito bem porque diabos se está de pé quando nem o sol resolveu firmar ainda, com a percepção de um recém nascido, com luzes a explodirem a sonolência teimosa, num estado morto-vivo vampiresco, você se veste. Como você é ainda daqueles que resiste ao massacre, numa utopia bonita de acreditar na possibilidade de um viver saudável sob 375 mil toneladas das partículas mais altamente perigosas que o homem é capaz de produzir, você saí para correr. Corre-se a meia hora conseguida, e emenda (você é xiita) uma academia, espaço que os antigos gostavam de se referir como câmara de tortura inquisicional. É 7:47 e você corre para tua casa. O vislumbre da cama é piada de mal gosto. Banho. 8 minutos. Enquanto uma mão se ocupa dos cabelos a outra te escova os dentes, e a única idéia fixa é a reclamação anotada da falta absurda de uma terceira, que poderia muito bem estar te fazendo a barba. A roupa seria só vestida com mais rapidez se equipada de velcros. De pasta na mão, com mais pinduricalhos que o batman, a corrida agora tem como destino o ponto de ônibus, esse oásis de felicidade, que tenho a certeza, absoluta, de que nenhum mortal jamais teve fagulha de chateação. Eta serviço porreta esse. O relógio bate já 8:20 e nada do abençoado. O suor é de medo. A figura caricata do chefe se mistura à súplicas, berros, estagiários mortos pelo caminho na tentativa do chefe aplacar a sua sede de sangue. 8:35, agora vai. Você e mais 72 pessoas, também felizes, todos numa grande jornada ao sublime. Mantendo a paciência zen-budista, de sorriso complacente no rosto, segue-se pelo sem fim de carros à 0,35 km/h, num enorme cortejo à boa vida.Tudo isso para chegar ao trabalho, que dizem os que nunca precisaram se valer desta prática , enobrece o homem. Só se for o homem dono. Não vou aqui me atrever a pormenorizar estas horas de trabalho, seria muito terror para estômagos fracos, basta ter de vivê-los. Passadas as horas perdidas, se para a maioria dos cristãos o dia acaba, o teu dia pagão ainda tem chão. Nada melhor, depois desse périplo, do que entrar em contato com o saber, este deleite da alma, mas não do resto do corpo. Dá 18:35 e você, já de janta comida num cubículo qualquer que os chefes esqueceram de colocar um estagiário e chamam de copa, arrasta a carcaça para a aula, que em impiedosas 19 horas e 30 minutos, começa. Se não tive coragem de relatar aqui as pequenices do trabalho, não vou conseguir sequer pensar no tempo consumido entre às 19:30 e 22:45. Imaginemos um buraco negro, sugando por seu vórtex toda a felicidade do homem, deixado nada que dor, dor. Em casa pelas 23 horas e sei lá quantos malditos minutos, o pensamento final, a dar o pontapé ao abismo, é a certeza de que o próximo dia será, inexoravelmente, igual. Mas se se tem de andar, e andar é assim, que venha o próximo. Saravá!

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