Peguei me lembrando, diante da brabura destes tempos negros, de como eu me comportava em domingos.Tinha 15 anos e era um daqueles bobos que você, menina, ignorava. Tinha arroubos intensos e arrebatadores de uma melancolia sem fim, o que já me deixava ainda mais esquisito do que só a brancura, o aparelho e o fato de ser bobo, porque convenhamos, bobos nessa idade todos somos, mas que moleque de 15 anos sofre, e ainda mais por melancolia... Cumpria o roteiro ultra-romântico a risca, ensaiando os primeiros capítulos da minha vida novela mexicana e passava a tarde pensando nela, fosse quem fosse ela, olhando para a chuva como se fosse a materialização do meu espírito, ouvindo uma música a mais triste que dava pra ser sem ser Legião Urbana, numa sala que até hoje me dá saudades. Dor, muita dor, toda a dor do mundo por aquela que, se sabia que eu existia, ressentia o fato. Não pertencia, obviamente, ao grupinho "garotos-sensação" e os achava todos saídos de uma mistura macabra de Malhação e filme sessão da tarde do mais representativo gênero quarterback/cheerleader/nerd, cabendo a mim, mas claro, o último posto, a contragosto. Passei meu ginásio e quase todo meu colegial ruminando este sentimento ruim de ser sozinho e de fato me chateava porque nenhuma das meninas da época queriam mais nada que só pose de mal. Aonde fica a conversa? Cadê o gostar do outro, o saber do outro? Dez anos depois já não faço o tipo nerd, pelo menos não escancaradamente, mas de novo me vi sentando em uma sala, num domingo que chovia. O problema agora é outro, ainda que a conseqüência seja quase a mesma. Hoje não sofro mais da ignorância da outra parte, mas faço o papel obtuso do que aparentemente não dá a menor para ela, como se personificasse aquele garoto-sensação de antes, só que sem a desculpa de se ter 15 anos. Tive o relacionamento entre os dedos e o vi escorregando lento, inerte demais para perceber a apatia dos dedos, a burrice da ausência, o isolamento em si mesmo. Perdi o que por tanto chorei enquanto crescia e consigo ver a minha antiga cara de desaprovação, amaldiçoando tamanha insensibilidade. Agora o que sobra é fechar para balanço, contabilizando os erros com a ajuda de um corpo de contadores que trabalham 24 horas a fio, com o doído de cada uma das farpas merecidas, tentando saber em que parte me perdi daquele menino adolescente e de seu querer de cuidar, se é que ele algum dia de fato existiu ou já era semente do dramalhão que estava por vir e não passava mais do que monólogo. Bom mesmo seria se tivéssemos uma secretaria para esse tipo de coisa. Alguma coisa encaixada no Ministério do Desenvolvimento, a receber nossas súplicas, apontando em papel passado, timbre oficial, o porquê e como.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
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