sexta-feira, 26 de setembro de 2008

1996

Antes de fuxicarmos a vida alheia, é bom descer algumas linhas sobre este ano tão longínquo e talvez desconhecido pelos teus olhos novos. 1996 foi data de distinta euforia pelos rumos econômicos tomados pelo país quando do comando do último dos Imperadores, aquele que não pode ser nomeado (não, querida moça, não confunda com a literatura infantil de seu tempo). Muitos já se encarniçavam pelos beicinhos burgueses e neo-liberais do catedrático, mas a maioria nadava de braçada na maravilha do mundo com 3 zeros a menos e com a pífia realidade cinematográfica (ou em português claro, de Hollywood) da paridade com o dólar. Dá até para sentir falta de Pedro Mallan ('Essa história de recessão no Brasil é lixo, é bullshit') e de frango vendido a R$ 0,99. Quer coisa melhor do que ouvir palavrão em língua estrangeira em país que a maioria nem português fala, comendo asa frita com frango assado e canja de entrada? Mas não falemos de coisas pequenas, vamos nos ater ao que importa. Mil novecentos e noventa e seis foi o ano em que tudo aconteceu. Ele e ela se acharam no mundo. Mas não foi assim tão fácil. Ele nem sempre teve ela do lado. Ela nem sempre teve um lado para se ficar. Era 1º de janeiro daquele ano bom. Bom porque todo novo ano é. Não tem um cristão, ou mesmo anti-cristo, que não acha que dessa vez vai. Que vai, vai. Só que nem sempre para longe do que já se ia.... Ele andava macambúzio pela praia, entupida de pólvora, rosas e paulistanos que até aquela hora faziam fila para pular as três ondinhas. Chorava o fim. Não do ano, mas da vida com lhe era. Nunca se arrependeu tanto de uma surpresa. Antes não tivesse a sorte de conseguir um vôo para casa na véspera do ano novo. Antes não tivesse casado. Ela não se considerava feliz, mas não tinha grandes razões de tristeza. A vida era a de sempre. Do trabalho para o apartamento à beira-mar. Nele para a cama. Dela para o trabalho. A rotina era tanta que não abria espaço nem para sentimentos. Enquanto ele viveu planejando ela planejou uma vez só e viveu do resultado. Ele tinha a imagem da cerimônia do casamento na cabeça já na primeira vez que beijou aquelaoutra. Da carreira à cor do pano de prato, ele tinha decidido tudo. Só a escapadela daquela não estava no script. Já ela teve alguns, mas nenhum que valesse a pena pensar em qualquer coisa, nem mesmo se chegava a gostar deles. O que nenhum dos dois imaginava era que o ano de 1996 ia ser bom. Esse ia.

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