quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Procedimento


No primeiro ato de humildade tido na vida, vem o infeliz questionar o porquê e querer o como. Já que é a primeira vez que tenho o distinto desprazer de perder algumas palavras com este que agora suplica pela resposta que acreditava ter na ponta da língua, em milhões de sinônimos, pincelo o que se consegue. Fez 25. Loiro. Branco. Estatura nem pouca nem muita. Fala. Muito. Vaidoso. Gasta significativa parte da vida tentando estar alinhado, mas de linha isso daqui não tem nem ponto. Teimoso. É bobo em horas inapropriadas, apropriadas. É bobo. Tem de suas inteligências, mas quem as não têm. Anda de um jeito esquisito, escreve de um jeito esquisito, toma café, lê o jornal, comenta do tempo, enfim, pensa que é vivo.
Feito com o máximo de esmero o resumo que se dá para ter, vou ao que tenho de ir. Porque és um parvo. Um míope de si mesmo que só vê no outro platéia, numa encenaçãozinha barata e sem graça de um arremedo de novela mexicana. Agora não me venha com mumunhas a me dizer que quer outra pessoa que não si mesmo ao lado porque quando lado havia, teus olhos se ocupavam com tudo que não fosse a penitente que cumpria a sina.
É sem hora de começar a viver de suas meias palavras, largar esse vazio de insignificante existência, então te aconselho a se valer de um incrível desenvolvimento humano que parece te ser novidade. Terapia. Mas não se preocupe não, a quem se contentou por tantos anos com o pouco que é você, qualquer meia luz que vier será resplandecente, isso no miraculoso dia em que revirar os olhos de dentro para o resto que acontece por aqui. Agora, te aviso, confesso que com gosto, aquela luz que te inundava tomou rumo, meu rapaz. Ponha na conta da tua parvoíce.
É meu porquê, são meus conselhos. Toque-se o procedimento.

 
Diogo Barbazu Labrego
Conselheiro da Secretaria das Idiossincrasias e Filigranas Únicas do Desenvolvimento Humano – SIFUDEHU

 

 
Não posso deixar de me envergonhar com a rispidez de meu colega conselheiro. Tudo bem que o pobre que agora chora às tampas não é exemplo de retidão, mas não creio que o cenário para tamanha escuro. Tem sim de suas inteligências, de sua bondade, de sua doçura. Sensibilidade e carinho acompanham de tempo seus traços. De certo nem sempre pensava nas consequências das palavras, por vezes se perdia em seu próprio turbilhão, e nisto não se encontrava para encontrar o outro, mas nunca por mal. Não há, de fato, maldade. Há um confuso querer beber do mundo e de metódico e encucado que é, ainda não arranjou como verter a cuia sem cair gota, e assim vai sem conseguir sentir o gosto de nada, seco da vontade. Terapia de fato lhe faria bem, a aparar algumas dessas arestas que acabam raspando o carinho que lhe é inerente, o cuidado pelo outro que pauta a vida, as próprias ambições. Um lapidar desta pedra que tem seu brilho. Concordo com o conselho, divirjo no porquê.

Michaela Augusta dos Anjos
Conselheira da Secretaria da Esperança na Racionalidade Adulta – SERA

 

 
Tendo a opinião de ambos mesmo rumo, a despeito do dissonar da causa, que se expeça ofício determinando terapia ao ora suplicante. Notifique-se para o quê de direito. Anote-se nos livros atinentes. Arquive-se decorrido o prazo.

 
Miguel Jorge
Ministro do Desenvolvimento

Um comentário:

Anônimo disse...

Não existem más ações. Só existem ações.